segunda-feira, 17 de fevereiro de 2020

Apresentação colecção Watchmen/ Doomsday Clock

Como os visitantes mais regulares devem ter notado este blogue tem estado parado desde Outubro do ano passado. Regressa agora com a apresentação do nova colecção Público/Levoir dedicada ao Watchmen e a Doomsday Clock, história que integra as personagens criadas por Alan Moore e Dave Gibbons no universo dos super-heróis da DC. 
Aqui vos deixo o destacável que escrevi para o Público, na sua versão integral, pois o texto sobre as adaptações ao cinema e à televisão acabou por não entrar no destacável por falta de espaço.

DE WATCHMEN A DOOMSDAY CLOCK

Há obras que marcam profundamente um género, tornando-se um marco incontornável da sua história. É indiscutivelmente o caso de Watchmen, a obra-prima de Alan Moore e Dave Gibbons, não por acaso, a única BD incluída pela revista Time na sua lista dos 100 Melhores Livros de Todos os Tempos. Watchmen, que está no centro desta nova colecção do Público e da Levoir. Uma colecção que inclui ainda Renascer e Doomsday Clock, de Geoff Johns e Gary Frank, saga que revisita o mundo de Watchmen integrando-o no resto do universo DC.
Nascido em Northampton em 1953, Alan Moore é uma lenda viva da BD, até pela excentricidade da imagem que cultiva e pelo afastamento total das grandes manifestações públicas, como os Festivais e as Convenções de BD, trocados pelo exílio voluntário da sua casa de Northampton, uma pequena cidade do interior de Inglaterra. A sua longa carreira, recheada de prémios e sucessos comerciais, iniciou-se em Inglaterra, nas páginas das revistas 2000 AD e Warrior (onde começou a ser publicado o notável V de Vingança) mas seria em 1984, ao passar a trabalhar para o mercado americano, que o mundo pode finalmente apreciar todo o talento de Moore e a sua capacidade de insuflar uma nova vida a personagens cansados, provando que a BD também pode ser literatura. Como refere Barbara Kessel, editora da DC na altura em que Watchmen foi publicado, “Alan mudou o papel do argumentista nos comics. Os seus argumentos contêm mais do que uma história completa. Podes ler um argumento dele e ter o mesmo impacto de um comic completo. Com a maioria dos escritores, o argumento é uma mera descrição para o desenhador. No caso de Alan Moore ele descreve cada porção da cena com um detalhe tal, que tu acabas por visualizá-la de uma forma tão completa que ler o comic é como ver Shakespeare outra vez”.
A dar vida aos argumentos incrivelmente densos e detalhados de Moore, está Dave Gibbons. Desenhador inglês nascido em 1949 com uma carreira iniciada em Inglaterra na série Dan Dare e na revista 2000 AD, Gibbons estreou-se nos EUA trablhando nas revistas Green Lantern e Flash e, além de Moore, colaboraria ainda com Frank Miller na série Martha Washington e com Mark Millar em Kingsman, para além de escrever argumentos para Mike Mignola, Steve Rude (Batman e Super-Homem: Os Melhores do Mundo, já editado pelo Público e Levoir) e Adam e Andy Kubert, entre outros.
Pegando num grupo original de super-heróis inspirados em personagens da editora Charlton, cujos direitos a DC tinha adquirido, Moore constrói uma obra complexa, que além de fazer a autópsia do universo de super-heróis, explora de uma forma nunca antes vista as extraordinárias potencialidades narrativas da linguagem da BD. Como o próprio refere: “É muito fácil deduzir as nossas intenções, quando nos sentámos para produzir o primeiro número de Watchmen: queríamos fazer uma banda desenhada de super-heróis nova e inusitada, que nos desse a oportunidade de experimentar algumas ideias narrativas novas pelo caminho. Mas acabámos por obter algo substancialmente maior do que isso.
Nalgum ponto ao longo desse caminho, entre o material com o qual estávamos a trabalhar e as novas técnicas narrativas que estávamos a experimentar, começou a acontecer uma coisa que não tínhamos antecipado. Quanto mais olhávamos para a história, mais profundidade ela mostrava ter. Quanto maior a nossa compreensão dos detalhes subliminares que serviam de pano de fundo que estávamos a usar, mais esses detalhes se tornavam parte integrante da linha da história, agindo como uma espécie de meta continuidade que acabou por igualar-se ao guião em termos de importância para a obra acabada.”
Tentar dar continuidade a uma obra com esta complexidade e importância é algo a que poucos se atreveriam, mas Geoff Johns, um dos principais arquitectos do actual Universo DC, cujo trabalho os leitores portugueses têm podido apreciar nas colecções que o Público dedicou à editora do Batman e Super-Homem, saiu-se com distinção de tão espinhosa missão, muito bem secundado pelo belíssimo traço de Gary Frank. Pegando em muitos dos elementos narrativos de Watchmen, desde a grelha de nove quadrados por página, a narração em voz off e os dossiers no final do capítulo; Johns cria uma história excitante e original, que homenageia a obra de Mooore e Gibbons e a história da DC, sem se sentir aprisionada por elas.


QUEM SÃO OS WATCHMEN?

HOMENS-MINUTO – Primeiro grupo de super-heróis, activo entre 1939 e 1949, os Homens-minuto eram constituídos por Silhueta, Espectral, Comediante, Justiça Encapuçada, Capitão Metrópole, Coruja, Traça e Dólar. Embora a acção principal de Watchmen se passe na década de 80, a história dos Homens-Minuto é-nos contada através de flash-backs e principalmente do livro Sob o Capuz, escrito por Hollis Manson, o primeiro Coruja.

COMEDIANTE – Inspirado no Pacificador, um dos heróis da Charlton cujos direitos foram comprados pela DC, com elementos de Nick Fury, Edward Blake é um psicopata cínico e violento, ao serviço do governo americano. Um homem que reconhece o horror presente nas relações humanas e se refugia no humor. A sua morte espoleta a trama de Watchmen.

RORSCHACH - Baseado nos personagens Questão e Mr. A, da Charlton Comics, Walter Kovacs, o Rorschach, é um sociopata, considerado o terror do submundo e um fugitivo da justiça. É ele quem move o enredo e todos os personagens desde o começo da saga, ao tentar descobrir quem matou o Comediante. Em Doomsday Clock, já não é Walter Kovacs, mas sim um seu seguidor, quem faz da máscara de Rorschach o seu verdadeiro rosto.

DR. MANHATTAN – Jonathan Osterman era um cientista nuclear, acidentalmente desintegrado numa experiência. Aos poucos, a sua força de vontade faz com que os seus átomos se unam novamente e volta à vida, mas como um ser capaz de manipular a matéria, viajar no espaço, estar em vários lugares ao mesmo tempo e ver o seu, mas apenas o seu, passado e futuro simultaneamente. Inspirado no Capitão Átomo, o Dr. Manhattan é um homem-Deus, que vê a vida como apenas mais um fenómeno do cosmos, e o único herói dotado de superpoderes. Na história torna-se o grande trunfo dos Estados Unidos na área militar e tecnológica.

ESPECTRAL - Laurie Jupiter, é uma mulher forçada a viver à sombra do pragmatismo da sua mãe, Sally Jupiter, a primeira Espectral, que foi a primeira vigilante a explorar comercialmente a sua actividade. É ex-mulher do Dr. Manhattan e mantém com ele uma certa cumplicidade. Adaptada da Sombra da Noite, com elementos de Lady Fantasma e Canário Negro.

CORUJA – Inspirado no primeiro Besouro Azul (Dan Garret) o primeiro Coruja foi Hollis Mason, um polícia que se tornou um vigilante, inspirado na BD e na literatura pulp. As suas memórias estão reunidas no livro Sob o Capuz. O segundo Coruja é Dan Dreiberg, um intelectual rico, solitário e retraído. Adaptado do segundo Besouro Azul (Ted Kord) com elementos do Batman, o novo Coruja é um especialista em tecnologia avançada, muito bem equipado para combater o crime.

OZYMANDIAS - Adrian Veidt é um milionário excêntrico, considerado o homem mais inteligente do mundo. Exímio atleta e lutador, cientista genial e homem de negócios extraordinário, Veidt reformou-se três anos antes da lei Kenee que proibiu os vigilantes, dedicando-se à gestão das suas empresas.

TRAÇA – Um dos homens-Minuto originais cuja carreira de combatente do crime terminou devido a problemas mentais e ao alcoolismo, Byron Lewis tem uma participação apenas episódica em Watchmen, mas em Doomsday Clock, Geoff Johns dá-lhe um maior destaque.


MÍMICO E MARIONETA – Únicos personagens criados de raiz por Johns e Frank para Doomsday Clock, Marcos Maez e Erika Manson são um casal de super-vilões capturados pelo Dr. Manhattan, que se vão revelar centrais no plano de Adrian Veldt para voltar a impedir o apocalipse nuclear.


O RELÓGIO DO APOCALIPSE, OU 
COMO CONTINUAMOS A VIVER SOBRE A AMEAÇA DA BOMBA

Publicado originalmente em 1986, num momento em que as tensões entre os EUA e a União Soviética estavam no seu ponto mais crítico, Watchmen reflecte o zeitgeist da época, em que a ameaça de um conflito nuclear entre as duas superpotências era um perigo bem real.
Naturalmente, essa situação acaba por se reflectir também na ficção da época, tanto na Banda Desenhada, como no cinema. Veja-se O Regresso do Cavaleiro das Trevas, de Frank Miller, também de 1986, em que os EUA e a URRS quase entram em guerra pelo domínio da Ilha de Corto Maltese (uma óbvia homenagem de Miller a Hugo Pratt), ou em séries europeias como Simon du Fleuve, de Auclair, Jeremiah de Hermann, Armalite 15, de Michel Crespin, ou Hombre de Segura e Ortiz, todas ambientadas num futuro pós-apocalíptico. No cinema, basta pensar na saga Mad Max, ou em filmes como O Planeta dos Macacos, cuja imagem final, poderosíssima, inspirou a série Kamandi, de Jack Kirby.
Um elemento que traduz bem o peso dessa ameaça de um conflito nuclear em Watchmen, é a presença do Relógio do Apocalipse, cujo avançar dos ponteiros em direcção à meia-noite, avisa para o momento que corresponderia à destruição da humanidade. Em Watchmen o que leva o Relógio do Apocalipse a aproximar-se perigosamente da meia-noite é a forma como a presença do Dr. Manhattan, que tinha permitido aos americanos vencer a guerra do Vietname, vem perturbar o equilíbrio estratégico entre as duas superpotências, levando o bloco de Leste a uma reacção desesperada, invadindo o Afeganistão (algo que aconteceria anos depois no mundo real) e o Paquistão. É precisamente para evitar que o relógio chegasse à meia-noite, que Adrian Veldt, o Ozymandias, criou um elaborado plano.
É esse mesmo Relógio do Apocalipse que dá título a Doomsday Clock (um título cujas iniciais são as mesmas da editora DC, numa aliteração óbvia que inevitavelmente se perderia na tradução) e que, no passado dia 23 de Janeiro foi acertado para os 100 minutos para a meia-noite, assinalando o momento em que a humanidade se aproximou mais da destruição total, desde que o Relógio foi criado, em 1947. Um avançar para o abismo ditado pelas alterações climáticas e pelo risco de um conflito nuclear.
Em Doomsday Clock tanto a dimensão onde estão os Watchmen, como a Terra onde vivem o Batman e os outros super-heróis da DC estão à beira de um conflito nuclear. E se em Doomsday Clock, o plano de Ozymandias e as contribuições do Dr. Manhattan e do Super-Homem chegaram para evitar o Apocalipse, no nosso mundo pode ser bem mais complicado.


SABIA QUE?

A primeira presença dos personagens de Watchmen no Universo DC não aconteceu apenas com o especial de DC Rebirth, incluído nesta Colecção. Muito antes, em 1988, Rorschach faz uma participação espacial no nº 17 da revista Question, numa história intitulada A Dream of Rorschach, em que o herói adormece a ler o Watchmen num avião e sonha com o Rorschach. Uma homenagem, feita com o conhecimento e aprovação de Moore e Gibbons, que têm direito a um agradecimento especial na ficha técnica e que tem uma dimensão simbólica, pois Alan Moore inspirou-se precisamente no Questão para criar Rorschach.

Todas as pranchas originais de Watchmen foram vendidas ainda antes de serem publicadas. O desenhador Dave Gibbons tinha à época, um acordo com uma livraria especializada inglesa, que lhe deu um adiantamento pelas pranchas originais, em troca de ficar com todas as páginas dos doze números para venda à medida que o desenhador as fosse desenhando. Um acordo que, face à popularidade que a série acabou por adquirir, se revelou muito mais vantajoso para o comprador do que para o autor.

Entre o inúmero merchandising a que Watchmen deu origem, está uma torradeira que faz torradas com as manchas de Rorschach. Esse processo passa por uma placa de metal com as manchas de Rorschach recortadas colocada entre a resistência e o espaço onde entram as fatias de pão, de modo a que o calor passe pelos espaços recortados, deixando a marca nas torradas.

Os autores tinham um acordo com a DC que lhes permitia recuperar para si todos os direitos de Watchmen um ano depois da série estar esgotada. Algo que a DC contornou facilmente, reimprimindo Watchmen de cada vez que estava perto de esgotar, mantendo-a sempre disponível no mercado. Essa impossibilidade de conseguir os direitos da série que tinha criado, foi um dos motivos que levou Alan Moore a cortar relações com a DC e a exigir que o seu nome não aparecesse nas adaptações cinematográficas das obras que escreveu para a editora americana.

Alan Moore teve uma participação especial na série de animação The Simpsons. No sétimo episódio da temporada 19, Husbands and Knives, Moore, que dá voz à sua própria personagem, participa numa sessão de autógrafos em Coolsville, a nova livraria de BD de Springfield juntamente com Art Spiegelman e Daniel Clowes, em que Millhouse lhe pede para autografar um livro dos Watchmen Babies, chamado V for Vacation, numa paródia aos dois mais populares títulos que Moore fez para a DC, Watchmen e V de Vingança.

TEXTO INÉDITO - DA BD PARA O CINEMA… E TELEVISÃO


A vontade de adaptar Watchmen ao cinema vem de longe. Logo a seguir à publicação da mini-série original, em 1986, os produtores Lawrence Gordon e Joel Silver compraram os direitos da novela gráfica para a 20th Century Fox, encarregando Sam Hamm (argumentista do primeiro Batman de Tim Burton) da adaptação, depois de Moore ter recusado adaptar o livro que tinha escrito. Em 1991 a Fox deixou cair o projecto que passou para a Warner Bros (proprietária da DC) que escolheu o cineasta Terry Gilliam, um dos Monty Python e o director do filme Brazil para levar em frente o projecto. Um dos primeiros passos de Gilliam foi perguntar a Alan Moore como se adaptava Watchmen ao cinema. A resposta de Mooore foi simples: “não se adapta.” E Gilliam viu-se obrigado a concordar, acabando por se afastar do projecto, por considerar que Watchmen “não era filmável.”
O projecto passou depois por diversas mãos, como David Hayter, Paul Greengrass, Michael Bay e Darren Aronofsky, até que Warner, impressionada com o trabalho de Zack Snyder em 300, outra adaptação de uma BD, neste caso de Frank Miller, o escolheu para levar Watchmen ao grande ecrã, num filme que chegou às salas de cinema em 2009.  
Snyder disse que já ficaria contente se o seu filme funcionasse como um trailler de 2h30m que levasse as pessoas a comprar o livro de Moore e Gibbons. E, se esse objectivo foi amplamente cumprido, com as vendas do livro a dispararem, não foi o único. Apesar das mudanças no final, o filme demonstra grande respeito e admiração pela obra original e é um bom filme de acção, com cenas espectaculares e um genérico notável.   
Mesmo que o Director’s Cut lançado apenas em DVD e BluRay, com mais meia hora de filme, a animação de Contos do Cargueiro Negro, (a história de piratas que um dos personagens lê no livro e que funciona como contraponto e comentário à acção principal) e o documentário Sob o Capuz, que conta a origem dos Minutemen, permita uma experiência imersiva ainda mais próxima da BD original, tal como chegou às salas de cinema, o Watchmen de Zack Snyder não desiludiu os fãs da novela gráfica
Em 2019, a HBO lançou uma série televisiva, dirigida por Damon Lindelof que prossegue a história de Watchmen de uma forma tão surpreendente como conseguida. Fiel ao original, mas sem medo de ir mais além, Watchmen, a série de TV, viu o seu último episódio ir para o ar na mesma semana em que chegou às lojas o último capítulo de Doomsday Clock. Uma simples coincidência, mas que une duas excelentes histórias que mostram que Watchmen, sendo uma obra notável, não é intocável.
Textos publicados originalmente no jornal Público de 13/02/2019

quarta-feira, 9 de outubro de 2019

Novela Gráfica V 13 - Café Budapeste

Um pouco mais tarde do que o habitual, devido à minha ida ao Festival de Lodz (de que está prometido para aqui um punhado de imagens do evento e sobretudo, da magnífica exposição dedicada à DC Comics) aqui fica o último texto desta quinta série da colecção Novela Gráfica. só foi pena que, nos últimos dois números, o espaço disponibilizado pelo Público tenha sido tão reduzido, pois são dois livros, pois são dois livros que justificavam uma análise mais aprofundada.

BUDAPESTE EM JERUSALÉM 

Novela Gráfica IV – Vol. 13
Café Budapeste
Argumento e Desenhos – Alfonso Zapico
Quinta-feira, 26 de Setembro
Por + 10,90€
Na próxima quinta-feira chega ao fim a quinta série da colecção Novela Gráfica, com Café Budapeste, de Alfonso Zapico. Um fecho em beleza, com o regresso do autor de Gente de Dublin que, depois da biografia em BD do escritor James Joyce, retorna a esta colecção com uma história de ficção ancorada na criação do estado de Israel e nas raízes do conflito israelo-palestiniano.
Primeiro trabalho de Zapico publicado directamente no mercado espanhol, Café Budapeste acompanha o destino de Yechezkel Damjanich, um jovem violinista judeu que, juntamente com a sua mãe, uma sobrevivente do Holocausto, abandona uma Budapeste devastada pela II Guerra Mundial para ir viver para Jerusalém, onde vive o seu tio Yossef. Fugindo da miséria, ambos chegam à Palestina num momento político convulsivo, pouco antes de os ingleses deixarem a região. O tio Yosef dirige o Café Budapeste, um lugar pitoresco perto da Cidade Velha, onde judeus, árabes e ocidentais coexistem ... Um oásis efémero de harmonia onde as notas do violino de Yechezkel vão dar lugar ao estrondo dos obuses de Davidka, bombas árabes, ódio e destruição.
Neste ambiente de intolerância e violência, a paixão de Yechezkel por Yaiza, um jovem de origem árabe, enfrenta ainda maiores desafios. Mas isso não os impedirá de procurarem a felicidade, numa cidade em guerra, onde o Café Budapeste é um dos últimos espaços de paz e tolerância.
Alternando de forma hábil a realidade histórica - e as questões políticas e geoestratégicas inerentes à um dos momentos mais importantes da história do Século XX, a formação do estado de Israel, cujas consequências ainda hoje se fazem sentir na região - com os dramas pessoais de Yechezkel e da sua família, Zapico constrói uma história cativante, que é um hino à tolerância e à paz entre os homens, independentemente da etnia ou credo.
Publicado originalmente no jornal Público de 26/09/2019

quarta-feira, 25 de setembro de 2019

Com o Lisbon Studio, no Festival de Lodz


Casa de muitos autores portugueses que conseguiram dar uma dimensão internacional ao seu trabalho, o The Lisbon Studio (TLS) celebra essa vocação global com uma exposição inserida na  edição de 2019 do Festival de BD de Lodz, que decorre de 27 a 29 de Setembro, na Polónia.

Uma mostra com produção de José de Freitas, curadoria de Bruno Caetano e textos da minha autoria, que celebra o presente, mas também o passado do TLS, centrada nos originais dos quatro artistas que estarão presentes em Lodz, Marta Teives, Ricardo Cabral, João Tércio e Nuno Saraiva, mas que inclui também arte de outros doze ilustradores portugueses que, nos últimos 10 anos passaram pelo  The Lisbon Studio: Filipe Andrade, Jorge Coelho, Nuno Plati, Ricardo Tércio, Ricardo Venâncio, Joana Afonso, Bárbara Lopes, Dileydi Florez, Patrícia Furtado, Pedro Potier, Pedro Brito e Nuno Lourenço Rodrigues.
Um total de dezasseis ilustradores para representar um país através de uma exposição que será acompanhada pela edição, por parte da editora Timoft, de uma antologia concebida especialmente para o mercado polaco, que recolhe histórias publicadas originalmente na colecção TLS Series, que a Comic Heart e G Floy têm vindo a publicar.
Criado em 1991, o Festival de Lodz é o mais importante Festival de Banda Desenhada da Polónia e do Leste europeu. Um Festival com uma grande ligação a Portugal e à BD portuguesa, traduzida na presença regular de artistas portugueses, como foi o caso de André Lima Araújo em 2018, e em projectos como o City Stories - Lodz. Uma parceria entre a AmadoraBD e o Festival de Lodz, que passou pela colaboração entre artistas portugueses e polacos na realização de histórias inéditas, de que resultou um livro e uma exposição na edição de 2010, onde estiveram presentes os criadores portugueses Ricardo Cabral, Rui Lacas, Filipe Andrade e Filipe Pina que, não por acaso, passaram todos pelo TLS.
Eu estarei por lá, acompanhando os autores do TLS e para apresentar uma comunicação sobre a BD portuguesa e conto  trazer-vos aqui um punhado de imagens desta viagem ao Festival de Lodz.

terça-feira, 24 de setembro de 2019

Novela Gráfica V 12 - Neve nos Bolsos

UM ESPANHOL NA ALEMANHA

Novela Gráfica V – Vol. 12
Neve nos Bolsos
Argumento e Desenho – Kim
Quinta-feira, 19 de Setembro
Por + 10,90€
Kim, o desenhador de A Arte de Voar e A Asa Rasgada, duas magníficas novelas gráficas escritas por António Altarriba, regressa à colecção Novela Gráfica como autor completo com Neve nos Bolsos, um relato autobiográfico da sua ida para a Alemanha e das vivências de outros espanhóis que emigraram com o mesmo objectivo, ganhar a vida.
Foi em outubro de 1963 que o jovem Joaquim Aubert Puigarnau, ainda não conhecido como Kim, deixa seus estudos em Belas Artes e aproveita o ano que tem até começar o serviço militar, para ganhar a vida na Alemanha, como tantos outros espanhóis que atravessaram a Europa à procura de trabalho. Através dos seus olhos e das suas memórias, vamos descobrir a vida desses expatriados da Espanha franquista.
 Como o próprio Kim referiu numa entrevista: Esta novela gráfica surgiu devido a uma série de coincidências. Primeiro, porque tinha menos trabalho na revista El Jueves e muitas horas livres enquanto esperava que o Antonio Altarriba acabasse o argumento de A Asa Quebrada
Segundo, porque numa visita a Angoulême conversei com um rapaz alemão e contei-lhe essa viagem, que praticamente não tinha contado a ninguém. Tinha-a encerrada na memória e nem os meus melhores amigos. Quando ele me disse que na Alemanha já quase ninguém se recorda desses milhares de espanhóis que imigraram, percebi que tinha de contar essa história.”
Um processo quase catártico, que lhe permitiu recuperar um período importante, mas não particularmente feliz da vida de Kim e da história de Espanha: “Recordar esse ano que estive na Alemanha foi uma espécie de terapia para mim. Comecei a escrever a história na segunda pessoa, como se não fosse eu o protagonista. Mas quando mostrei umas quantas páginas a Altarriba e ele me disse que se notava que o protagonista era eu e me perguntou porque não escrevia na primeira pessoa, decidi fazê-lo”.
 “Não tenho uma memória alegre. Foi um ano bastante duro, como se pode ver no livro. Ainda assim, tive a sorte de privar com um grupo de gente jovem que tentava aproveitar a vida: ríamos, fazíamos festas... Mas a gente mais velha não saia nunca, passavam o dia a trabalhar e a pensar em Espanha. Escutavam constantemente a rádio espanhola e sonhavam com poder poupar dinheiro suficiente para poderem regressar. “
Publicado originalmente no jornal Público de 21/09/2019

domingo, 22 de setembro de 2019

Balada para Sophie - Novo livro de Melo e Cavia em 2020

Quem acompanha este Blog, sabe que não costumo fazer divulgação. Mas neste caso decidi abrir uma excepção para divulgar a primeira imagem/teaser de Balada para Sophie, o próximo livro de Filipe Melo e Juan Cavia. Um livro que tem tudo para ser o melhor livro de autores portugueses (não é erro, pois apesar de ser Argentino, o Juan Cavia adquiriu recentemente nacionalidade portuguesa) publicado em 2020.
O mais ambicioso trabalho da dupla, com quase 300 páginas (a última versão que li tinha 277 e o Filipe é conhecido por ir acrescentando coisas à história) deverá estar pronto em meados do próximo ano e a versão que li, com a planificação e diálogos terminados e bem mais de 100 páginas completamente desenhadas e uma meia centena já com as cores planas, não me deixa dúvidas de que estamos perante o melhor trabalho de Filipe Melo e Juan Cavia, o que tendo em conta o alto nível de Os Vampiros e de Comer/Beber, não é coisa pouca!
Centrada na rivalidade entre dois pianistas, Balada para Sophie é uma história simultaneamente épica e intimista. Uma grande história sobre música, escolhas e o mais que os leitores verão em 2020.